sexta-feira, 4 de janeiro de 2008



Luis Fernando Verissimo
"Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou com a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria sua patroa! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção de lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias para saber quem é que manda." (O Gigolô das palavras).


Luis Fernando Verissimo nasceu em 26 de setembro 1936, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Filho do grande escritor Érico Veríssimo, iniciou seus estudos no Instituto Porto Alegre, tendo passado por escolas nos Estados Unidos quando morou lá, em virtude de seu pai ter ido lecionar em uma universidade da Califórnia, por dois anos. Voltou a morar nos EUA quando tinha 16 anos, tendo cursado a Roosevelt High School de Washington, onde também estudou música, sendo até hoje inseparável de seu saxofone.




BIBLIOGRAFIA :
Algumas Crônicas e Contos:

- A Grande Mulher Nua (7)- Amor brasileiro (7)- Aquele Estranho Dia que Nunca Chega (2)- A Mãe de Freud (1)- A Mãe de Freud (1) (ed. de bolso)- A Mesa Voadora (6)- A Mulher do Silva (1)- As Cobras (1)- A velhinha de Taubaté (1)- A versão dos afogados – Novas comédias da vida pública (1)- Comédias da Vida Privada (1)- Comédias da Vida Privada (1) (ed. de bolso)- Comédias da Vida Pública (1)...

Veja mais: http://www.releituras.com/lfverissimo_bio.asp













Mãe é foda -----------LuísFernando Veríssimo.



Mãe: Alô?


Filha: Mãe? Posso deixar os meninos contigo hoje à noite?


Mãe: Vai sair?


Filha: Vou.


Mãe: Com quem? Filha: Com um amigo.


Mãe: Não entendo porque você se separou do teu marido, um homem tão bom...


Filha: Mãe! Eu não me separei dele! ELE que se separou de mim!


Mãe: É... você me perde o marido e agora fica saindo por aí com qualquer um...


Filha: Eu não saio por aí com qualquer um. Posso deixar os meninos?


Mãe: Eu nunca deixei vocês com a minha mãe, para sair com um homem que não fosse teu pai! Filha: Eu sei, mãe. Tem muita coisa que você fez que eu não faço!


Mãe: O que você tá querendo dizer?


Filha: Nada! Só quero saber se posso deixar os meninos.


Mãe: Vai passar a noite com o outro? E se teu marido ficar sabendo?


Filha: Meu EX-marido!! Não acho que vai ligar muito, não deve ter dormido uma noite sozinho desde a separação!


Mãe: Então você vai dormir com o vagabundo!


Filha: Não é um vagabundo!!!


Mãe: Um homem que fica saindo com uma divorciada com filhos só pode ser um vagabundo, um aproveitador!


Filha: Não vou discutir, mãe. Deixo os meninos ou não?


Mãe: Coitados... Com uma mãe assim...


Filha: Assim como?


Mãe: Irresponsável! Inconseqüente! Por isso teu marido te deixou! Filha: CHEGA!!!


Mãe: Ainda por cima grita comigo! Aposto que com o vagabundo que tá saindo contigo você não grita.


Filha: Agora tá preocupada com o vagabundo?


Mãe: Eu não disse que era vagabundo!? Percebi de cara! Filha: Tchau!!


Mãe: Espera, não desliga! A que horas vai trazer os meninos?


Filha: Não vou. Não vou levar os meninos, também agora não vou mais sair!


Mãe: Não vai sair? Vai ficar em casa? E você acha o que, que o príncipe encantado vai bater na tua porta? Uma mulher na tua idade, com dois filhos, Pensa que é fácil encontrar marido? Se deixar passar mais dois anos, aí sim que vai ficar sozinha a vida toda! Depois não vai dizer que não avisei! Eu acho um absurdo, na tua idade você ainda precisar que EU te empurre para sair!





(Luis Fernando Veríssimo)

Um comentário:

Juliana Foz disse...

Adorei a crônica!
Adoro Verissimo... =D

Beeeijos Theise