sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Genetica e psicologia

Psicologia e Genética: O Que Causa o Comportamento? Marco Montarroyos Calegaro,

Comportamento e genética
A história da rejeição dos achados da genética tem um ponto importante nas idéias nazistas. O azismo tentou usar a genética para amparar sua teoria da superioridade ariana, considerando como seres inferiores os negros, ciganos, eslavos, retardados e deformados, justificando assim o seu envio para campos de extermínio. É desnecessário comentar que essa interpretação é pura fantasia de mentes doentias e não tem qualquer embasamento científico.
A psicologia americana na época da segunda guerra mundial era radicalmente ambientalista, e em função da associação “nazismo-genética” afastou-se ainda mais dessa ciência. Admitir diferenças genéticas entre João e Pedro em habilidades cognitivas, por exemplo, seria aceitar os pressupostos que justificariam o fascismo e o racismo. Até hoje encontramos essa concepção no meio acadêmico de esquerda da Psicologia. Apesar de partilhar da preocupação em rechaçar ideologias de extrema direita, acredito que não é mais possível sustentar este tipo de crítica à genética pois é baseada em um equívoco grosseiro.
Uma outra concepção que afasta as pessoas do reconhecimento das contribuições da genética comportamental é a posição já ultrapassada do “determinismo genético”, combinada ao que é referido na literatura (Rachels, 1991) como “falácia naturalista”. O “determinismo genético” postula que certos aspectos nossa personalidade e nosso comportamento seriam definidos por nossos genes, de modo inescapável. Essa posição está completamente ultrapassada, sabemos hoje que todo comportamento depende, em maior ou menor grau, de fatores genéticos e de fatores ambientais, interagindo de maneira extremamente complexa.
A palavra determinação é equivocada, e deve ser substituída por expressões como tendências, propensões ou influências genéticas. Os genes definem tendências, mas são as experiências individuais que, sempre, as modulam. Qualquer gene precisa, para haver a chamada expressão adequada, de determinadas circunstâncias externas, sejam bioquímicas, físicas ou fisiológicas. A pergunta clássica “este comportamento é herdado ou adquirido pela experiência?” perde completamente o sentido, dando lugar à difícil questão “como é que os genes interagem com o ambiente na produção deste comportamento?.”
A “falácia naturalista” (Rachels, 1991) é outra noção perigosa, mas espantosamente difundida. Refere-se a um equívoco na interpretação da teoria de evolução, estendendo-se a qualquer característica que seja diretamente influenciada pelos genes. Refere-se ao salto entre aquilo que “é” para o que “deve ser”. Ou seja, cair na “falácia naturalista” é concluir que, se nossa espécie apresenta uma característica comportamental com modulação genética (aquilo que é), então esse seria o padrão “natural” ou “correto” de conduta (aquilo que deve ser). Em um exemplo, se as pesquisas demonstram uma forte tendência masculina para a infidelidade conjugal (Buss, 1994), e admitindo-se uma base genética para esta diferença sexual, não poderíamos sustentar a inevitabilidade da traição masculina, uma vez que é o comportamento “natural”?
Darwin concebeu a seleção natural como um processo mecânico, sem planejamento antecipado e sem qualquer implicação moral. O certo ou errado, no sentido daquilo que deveria ser, não pode ser deduzido a partir da teoria darwiniana, embora esta teoria possa nos dizer como evoluiram nossos sentimentos morais. Portanto, a tentativa de atribuir valores morais a um comportamento pelo fato dele ter sido selecionado não tem qualquer sentido. A propensão genética para a infidelidade não a torna inevitável (os homens podem perfeitamente controlar este impulso) ou moralmente aceitável. O mesmo raciocínio vale para qualquer tendência com componentes genéticos –não tem qualquer sentido justificar eticamente um padrão de comportamento argumentando que este é o “natural”, pois outros critérios devem ser usados para avaliar as conseqüências de nossos atos.

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